segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

A um certo Carlos

Prezado Carlos,
Jamais saberás quem sou, mas eu te conheço bem e isso basta!
Tuas palavras me tiraram do lugar, me ajudaram a chegar até aqui com a energia e sentimento de quem não se acovarda ainda que diante de frequentes exposições às mais altas velocidades ou às piores ameaças. Mostraram alternativas e tantos mundos, que de tão extraordinários, não cabem.
Mas Drummond, de vez em quando sua Arte ainda cisma em escapar do meu entender. Teu esclarecimento é a profundidade do universo; e perto do teu oceano, minha maturidade ensaiada não é capaz de completar um copo d’água.
(Ni Brisant - Impressões do campo)
Há muito que pressinto tua existência e suspeito minha verdade nos teus códigos. Neles reside a síntese do que sou, do que sei e ignoro.
Carlos, dia desses, num ímpeto arrebatador, gravei tua caricatura em minha pele. É justo que depois de tudo eu te traga comigo. Agora que teus traços estão grudados na minha superfície, vou descer à periferia do centro da cidade para beber com nossos camaradas, cantar boas coisas e descobrir que somos mais felizes do que podemos pensar.
É verdade, ainda há uma pedra no caminho, mas hoje te carrego do lado esquerdo, onde está tudo que existe de melhor em mim. Não há perigo, Drummond!
Penso em reunir meus amigos mais raros para fazer um livro que se aproxime dos teus. Uma obra que fale de todas as nações enquanto descreve minha aldeia, que mostre a essência do coração a quem só conhece o cheiro do sangue e que revele aos assalariados toda a graça de uma quinta-feira ociosa no parque. Um livro tão simples, que faça meus companheiros apontar-lhe as falhas e meus algozes aplaudir a estética. Criarei um iceberg para afundar os navios de banalidades carregados de submissão e dor; algo que faça minha mãe chorar e minha filha rir.
Usarei minha expressão para compreender a linguagem dos sonhadores fechados em disfarces de cidadãos comuns; Minha busca será o oráculo dos que ainda não aprenderam a interpretar a sabedoria do silêncio, nem o amor de um abraço amigo.
Carlos, meus manos estão comigo, estão todos bem! Enquanto noticiam nossas mortes em outdoors, já estamos disputando outras guerras e escrevendo a história do nosso tempo. Não há perigo, Drummond!

Nenhum comentário:

Postar um comentário